in FMUL
O Professor Fausto J. Pinto apresentou a Conferência “Doenças Cardiovasculares em Tempos de Pandemia: Efeitos Diretos e Indiretos”, que decorreu no âmbito do 8.º Congresso Internacional dos Hospitais “Saúde 6.0: Pessoas e Tecnologia”, no passado dia 27 de novembro, em formato online.
Na sua intervenção, Fausto J. Pinto começou por contextualizar, com recurso a grafismos, o número total de casos de covid-19 em todo o mundo, destacando as principais características e especificidades do novo coronavírus, bem como, um resumo dos primeiros estudos realizados na China e que demonstraram uma prevalência de comorbilidades, nomeadamente de foro cardiovascular, nos doentes infetados pelo SARS Cov-2.
Atentando especificamente no impacto da covid-19 nas doenças cardiovasculares, o Professor considerou a existência de um impacto direto e indireto. “Por um lado aquilo que podemos designar como alterações diretas, que são induzidas diretamente pelo vírus ao nível do sistema cardiovascular […] mas também aquilo que podemos designar como envolvimento secundário, resultado, por exemplo, de quadros de insuficiência cardíaca que desencadearam situações que evoluíram para enfarte agudo do miocárdio”, explicou, analisando o caso clínico real, com origem em Inglaterra, de uma criança de 11 anos, “em que vemos pela primeira vez descrito a inclusão do vírus dentro das células miocárdicas, o que mostra que o vírus pode entrar diretamente na célula miocárdica e ser responsável por uma lesão direta no tecido cardíaco”.
Sobre o efeito do novo coronavírus no coração, Fausto J. Pinto afirmou também que “quanto maior é a evidência de lesão miocárdica, pior o prognóstico desses doentes”, acrescentando que “há marcadores de gravidade da doença que são determinados pelo tipo de agressão miocárdica que foi desencadeada”.
O Professor citou ainda o caso italiano, com a apresentação de gráficos ilustrativos do número mortes por covid-19 e a relação da mortalidade com os “biomarcadores de lesão miocárdica”, denotando também que “o facto de haver doença cardíaca concomitante teve um impacto significativo em termos de prognóstico”.
Apresentando o resultado das ressonâncias magnéticas realizadas a atletas de alta competição, adultos saudáveis, que foram infetados e com sintomatologia ligeira de covid-19, Fausto J. Pinto sublinhou que “embora esses indivíduos fossem assintomáticos ou tivessem formas ligeiras de doença, em 15% deles havia evidência de lesão miocárdica”. Um facto que pode ajudar a explicar alguns dos casos de morte súbita verificada nos atletas, realça o Professor, e que deu azo a um interessante debate no seio da comunidade médica sobre a possibilidade de criação de um algoritmo “para avaliação, em particular, dos atletas de alta competição que são infetados, de forma a poder excluir, ou se quisermos proteger, aqueles que, eventualmente, possam estar sob risco de poderem desenvolver alterações que podem levar à morte súbita”.
Na sua intervenção, o Professor apresentou ainda as conclusões de uma meta-análise, resultado de vários estudos efetuados pela sua equipa de trabalho, que incidiu nos doentes que estavam a fazer um tipo específico de medicação – “os inibidores de enzima de conversão da angiotensina” – “para tentar perceber se havia, ou não, algum tipo de alteração que justificasse, por exemplo, termos de mudar esta medicação neste tipo de doentes”. Concluiu-se, no entanto, que “este tipo de medicação não interfere, quer no grau de infecciosidade, quer na gravidade da doença que se possa desenvolver nos indivíduos afetados”, declarou.
Numa abordagem ao funcionamento do Serviço de Cardiologia em contexto pandémico e às estratégias implementadas, segundo diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia, Fausto J. Pinto explicou que foram estabelecidos um conjunto os critérios, em “consenso internacional”, com vista a definir as situações de prioridade mais elevada e reduzida, e respetivos procedimentos. “Foram ainda definidos critérios para não admissão em unidade nos cuidados intensivos, dependendo obviamente da evolução da pandemia”, frisou.
Não obstante o índice elevado de mortalidade da covid-19, as doenças cardiovasculares permanecem no topo da lista e são “a causa número um de mortalidade e morbilidade” em todo o mundo, vitimando todos os anos cerca de 18 milhões de pessoas. Daí a importância de discutir o “fenómeno mundial” que continua a preocupar a comunidade de médicos cardiologistas, citou Fausto J. Pintou, referindo-se à redução “muito significativa, que se verificou durante o período pandémico, da hospitalização de doentes com enfarte agudo do miocárdio”.
Erradicar o medo é, na opinião do Professor, uma mensagem importante a transmitir à população, “porque apesar de tudo os hospitais estão prontos para receber bem as pessoas”, assegurou. E apesar de haver “uma luz” e algum otimismo com a realidade da vacina cada vez mais próxima, Fausto J. Pinto é peremtório: “Eu diria que temos de contar, pelo menos, um ano para termos a situação sob controle e, portanto, esta é a altura em que temos de aguentar, todos”, apelou, aludindo à importância de não baixar a guarda no que respeita ao cumprimento das medidas de contenção da pandemia.
Saiba mais e consulte aqui a apresentação do Professor Fausto J. Pinto sobre os impactos da doença sistémica provada pela infeção por SARS Cov-2 nas doenças cardiovasculares.