Liderar por vocação, com o bem maior no horizonte

A Masterclass de Liderança em Bloco Operatório

Foi numa apresentação em direto e aberta a todo o público que o curso Operating Theatres Leadership and Perioperative Practice Management abriu oficialmente, apresentando a forte parceria entre a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e a Universidade de Cambridge.

Numa formação que se destina à gestão de equipas em bloco operatório e que pretende reforçar as ferramentas de Liderança em situações de grande tensão e responsabilidade, ouvir como figura central o Vice-Almirante Silvestre Correia, da Marinha Portuguesa, reforçava a certeza que a Liderança é transversal seja qual for o seu comando.

O que podem ter médicos e enfermeiros a retirar de um exemplo de Liderança a bordo? A pergunta pode ser tão intrigante, quanto apelativa à curiosidade de esclarecer que há diversas pontes comuns. Comecemos pelo fim que nos diz, de forma inequívoca, que é a vida humana e a sua defesa que explicam ações que, porventura, exigem sacrificar algumas decisões.

Seja em terreno firme de bloco operatório, seja em situações flutuantes e diante de estratégias de combate, ou vigilância, a Liderança obedece a uma hierarquia de responsabilidades e à voz de um comando, principalmente em situações limite, mas igualmente a uma estudada e meticulosa gestão de emoções.

Com 30 anos de experiência no mar e tenho já assumido missões cuja gestão das cerca de 2500 pessoas implicava uma operação internacional, o Vice-Almirante foi justificando que as fórmulas de Liderança são sempre tão incisivas no elogio, quanto na crítica e na chamada de atenção. Não obstante, “o Comandante, ou o líder, sozinho, não faz nada, porque são as pessoas e as suas ações conjuntas que originam o todo”. Referiu ainda que só há partilha de missão cumprida quanto maior for o envolvimento de todos, assumindo cada um a sua parcela de autonomia e responsabilidade. Mas não menos importante no papel do líder, “é conhecer o nome de cada uma das pessoas da sua equipa, conhecer-lhes as fraquezas e forças e incentivá-la, quando percebemos que se pode estar a perder a motivação. Quando algo corre mal é igualmente importante a reação do líder ao erro e dizer o que não lhe agrada”, referiu. Seja diante do erro, ou do elogio, da indecisão, ou de alguma angústia do desfecho, “o líder não deve mostrar medo ou insegurança no momento da tomada de decisão, porque tem o papel de acalmar quer as euforias, quer as derrotas”. O líder enquanto catalisador de esperanças e vontades sabe também que lidera tanto melhor quanto não “invadir desnecessariamente nos patamares de liderança que não são os seus, mas sem nunca deixar ficar o sentimento de indecisão, como concluiu o Vice-Almirante, “nunca conheci nenhuma indecisão que resolvesse o problema”.

O compromisso da Faculdade de Medicina na formação pós-graduada e a abrangência cada vez maior destas formações, são precisamente um dos grandes focos do Diretor da FMUL que não podia estar mais confiante nesta nova vertente de formações online, sendo aliás o próprio o coordenador principal da primeira de todas elas, na área das Emergências Cardiovasculares. Ciente que o mundo está a sofreu uma revolução na interação social, Fausto J. Pinto aposta ainda que a revolução será igualmente à escala digital, reforçando a experiência da academia que sempre se baseou na aprendizagem mais presencial e agora a conquistar novas áreas de alcance. Também enquanto líder frisou que a gestão das expetativas e a mediação das frustrações de cada um são condições necessárias para quem não cuida só do doentes, mas de pessoas.

Cirurgião vascular e Professor da FMUL, Luis Mendes Pedro viria a dar o mote sobre os grandes pilares do que são cargos de Liderança e o perfil de quem pode e deve ocupar esse lugar. Transversal à ideia do Diretor da Faculdade, também o cirurgião crê que as “skills modernas de um médico passam não só pela aprendizagem técnica, como também pelo desenvolvimento das competências da gestão psicológica e emocional”.

Nas palavras da Professora de Cambridge, Carolina Britton, “muita experiência é o que haverá nesta formação pós-graduada”.

“Quem cuida de quem cuida de todos”, ou “como se aplica a igualdade de género na Marinha Portuguesa”, foram ainda alguns dos pontos destacados, num encontro que deu espaço ao debate final e que pode assistir na íntegra, aqui.

A esta conferência inaugural de um curso que promete ser tão pioneiro, quanto promissor, e para além da presença do palestrante convidado, o Vice-Almirante Silvestre Correia e dos seus dois coordenadores, os Professores Luis Mendes Pedro (FMUL) e Carolina Britton (Cambridge), estiveram igualmente entusiastas e intervenientes, o Diretor da Faculdade de Medicina, Fausto J. Pinto e Carlos Martins, na qualidade de organizador das Masterclass Online Courses.

“O Mar por vocação e o país por horizonte”, um dos lemas da Marinha Portuguesa, será agora lema da Faculdade que não se trava nas novas pontes alicerçadas, “a nossa Medicina por vocação e o Outro por horizonte”.

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