In FMUL
A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa homenageou mais uma vez um dos seus emblemáticos Professores, através de uma iniciativa conjunta entre Diogo Telles Correia, Professor de Psiquiatria e atual Diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria, e a AEFML.
Esta iniciativa conjunta aconteceu com o intuito de revelar hoje, dia 26 de maio, a placa comemorativa de homenagem ao Professor que se encontra agora entre os seus Mestres, no Auditório Barahona Fernandes, no piso 1.
Professor jubilado de Psiquiatria, António Barbosa foi colocado no mesmo patamar de todos os grandes Mestres da Escola. Fausto J. Pinto, o Diretor da FMUL, não lhe poupou elogios: “Esta homenagem é importante, porque há sempre uma sensação de falta de gratidão das Instituições às pessoas, ao seu percurso e às contribuições que deram. (…) Assim estamos a simbolizar a gratidão, mas também a relembrar às gerações futuras que estes são os Mestres de todos”. A resposta de António Barbosa ao Diretor viria mais tarde, mesmo já no final da Cerimónia, mas não com menos impacto: “Esta clínica deve muito à sua sabedoria e sentido de Estado. Com este Diretor vale a pena ter sonhos. Muito obrigado!”.
Numa breve, mas sólida passagem pela história da psiquiatra em Portugal e referindo a solidez dos seus grandes fundadores, igualmente figuras ligadas à Faculdade de Medicina, Diogo Telles colocava nesse roteiro o ano de 2016. Ano de ponto de viragem para as ações de António Barbosa e a sua grande reformulação das cadeiras disciplinares sobre as doenças mentais, na formação da Medicina e das suas pessoas. Sinal de extrema importância de uma cada vez maior integração da psiquiatria no quotidiano humano, bem como no académico, são os números reais que comprovam que “40% dos casos clínicos que chegam à clínica geral, são por incapacidade psiquiátrica”, referiu.
Atual Psiquiatra, Chefe de Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Luís Câmara Pestana assinalou “a forma relevante do ensino da Psiquiatria, onde colaboraram juntos e desenvolveram trabalhos de investigação”. Destacando em António Barbosa a capacidade de implementar e desenvolver a psico-oncologia, a psiquiatria de ligação, a doença psicossomática e a abordagem às questões relevantes da perda e da dor. Câmara Pestana colocou a tónica que a lembrança não esqueça quem tanto fez. “Esperemos que esta placa faça perdurar na memória o trabalhão que aqui teve”.
Discurso emotivo de quem referiu a continuidade dos afetos, já demonstrada pela anterior Direção da Associação de Estudantes, o atual Presidente da mesma, António Velha, não escondeu os muito grandes “sentimentos diante do legado do Professor. Foi ele que humanizou os cuidados de Saúde, desde o 1º ano do curso. Deu-nos a perspetiva do outro e levou-nos a outras realidades”. Emocionado, quis ainda destacar a polivalência dos cuidados de Saúde, “uma das melhores optativas que tive foi a de humanidades médicas, pela estrondosa forma como se aprende tanto”. Na despedida ao Professor que seria igualmente retribuída com emoção e palavras embargadas, acrescentou: “Teve impacto na vida de todos nós, não tenho senão a agradecer-lhe”.
A placa dourada que o Professor referiu como “simbólico brilho que cada um dos Mestres deixou a esta Universidade e ao país”, foi descerrada por Fausto Pinto e Câmara Pestana, diante de um olhar tímido de um Professor que nunca gostou da demasiada exposição.
António Barbosa despediu-se dos seus grupos de trabalho no passado ano, em outubro, fazendo a sua jubilação. Foi Chefe de Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, assim como Diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica. Cofundou o Centro de Bioética e os seus Núcleos de Cuidados Paliativos e de Luto (Académico de Estudos e Intervenção sobre Luto) e o Núcleo de Ensino e Investigação de Competências de Comunicação e Relação, bem como as Associações Portuguesas de Psiquiatria, de Psiquiatria de Ligação, de Epidemiologia Psiquiátrica, as Sociedades Portuguesas de Psico-oncologia, de Estudo e Intervenção em Luto e de Comunicação Clínica em Cuidados de Saúde, tendo assumido em todas cargos de direção. Foi igualmente fundador da Secção de Psicossomática e Psiquiatra de Ligação da Associação Europeia de Psiquiatria de que foi Vice-presidente e Presidente do International College on Psychosomatic Medicine tendo organizado o respetivo Congresso Mundial em Lisboa com o patrocínio da FMUL.
Desde que entrou para a Faculdade como estudante de Medicina, e como monitor de biologia médica em 1972 até aos dias de hoje, passaram precisamente 50 anos, os mesmos anos redondos que o colocaram nas paredes desta sua casa.
Pela força das suas palavras e reflexo das ações que em todos nós deixou, ficam algumas notas finais, aquelas que devem ser sempre as últimas de qualquer texto que a ele se refira.
Obrigada Professor!
“Que respeitosa honra em que me vejo, numa placa, ao lado dos meus Mestres. (…) Estas paredes conhecem-me bem. Fui aluno do Professora Barahona Fernandes, e de António Damásio. Este é um espaço que me diz muito, é um lugar plural. (…) Fui observador estupefacto da condição humana. Não há nada mais instável que o conhecimento. Foi aqui que aprendi isso, bem como a humildade que muito foi adquirida aqui. (…) Não cabemos numa só pessoa, somos tanta gente. Todos somos, afinal, invenções psíquicas. Acumulei memórias de espanto (…) os nomes mais altos da Psiquiatria mundial passaram por aqui, estou a dizer a verdade! Foi nesse contexto que partilhei vida e experiências e generosidades únicas com os estudantes. Estive sempre com eles e eles comigo. (…) Não fui perfeito, mas fui inteiro e com empenho. (…) Se a saúde me permitir, continuarei a deslumbrar-me com a capacidade de me espantar e energizado pela relação humana. Só somos com os outros. (…) Valeu a pena podermos transformar destinos. Vamos continuar a fazer a diferença, juntos!”.