Excerto do discurso proferido a 4 de Outubro de 2021
Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
“Uma das grandes lições da pandemia que ainda vivemos, foi mostrar quão dependentes estamos dum sistema de saúde sólido e duma comunidade científica robusta, pelo que deveria ser claro para os decisores políticos, a necessidade dum reforço muito substancial da área da Saúde e do apoio à ciência e ensino médico, começando desde logo pelo reforço do orçamento das Faculdades de Medicina, esse sim, uma prioridade. Contudo, é com profunda mágoa que vemos a tutela assumir posições de todo incompreensíveis, reveladoras duma insensibilidade e desconhecimento total sobre a realidade da formação e ensino médico em Portugal e no Mundo. A recente intervenção publica de altos responsáveis políticos, desvalorizando, por completo, o que têm sido as posições unânimes de todas as estruturas com responsabilidade no ensino médico, ou seja, ANEM, OM, CEMP, insistindo no cliché estafado de “bloqueio corporativista”, seguramente de grande alcance populista, mas que mais não representa do que uma enorme cortina de fumo para quem não está interessado minimamente em perceber os problemas e a realidade da formação médica em Portugal. Esta deve ser a única área em que os atores no terreno têm uma opinião unânime, sólida e bem fundamentada, que esbarra com argumentos vazios, demagógicos, com fins obscuros que, seguramente, em nada contribuem para o desenvolvimento da Medicina em Portugal. Gostaríamos muito de ver a tutela mais preocupada em investir nas instituições médicas já existentes, que se debatem com fortes constrangimentos orçamentais, permitindo-lhes ser mais competitivas no plano internacional, nomeadamente na possibilidade de fazerem contratações ajustadas aos seus interesses e capacidade competitiva.Mas, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche “Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos” E, assim, continuaremos, a bater-nos por um ensino de qualidade e pela valorização da profissão médica, e não pela sua banalização ou desvalorização, como alguns parecem pretender. E, meus caros alunos, é desde agora que todos, começando por vós, nos temos de bater por essa valorização, sob pena de num futuro próximo o ato médico se transformar num ato burocrático ou numa mera transação comercial, como, infelizmente, parece ser o objetivo de muita gente com grande responsabilidade na área da Saúde, mas que de Saúde pouco parecem perceber, e ainda menos de Medicina e dos seus valores. Essa é a nossa responsabilidade, de guardiões dos princípios hipocráticos que norteiam a nossa profissão e que muitos querem subjugar a outras lógicas, alheias ao desenvolvimento científico e ao exercício da Medicina e áreas afins. De facto, somos os únicos que temos um juramento milenar que nos compromete de forma inalienável perante aqueles que servimos diariamente. “