in Fausto Pinto, Facebook

Hoje é um dia de luto para a Medicina portuguesa, com o desaparecimento do Professor Fernando de Pádua, que inspirou várias gerações de médicos, como a minha. Um lider na verdadeira acepção da palavras, que deixa um legado absolutamente extraordinário. Deixo aqui extratos do discurso que proferi na altura em que lhe foi atribuido o Prémio Saúde Sustentável, em 2018 e que resumem um pouco quem foi este Homem notável que a todos tocou para sempre e que tenho a honra de chamar de Mestre:

“…Este ano, mais uma Personalidade de Excelência irá ser contemplada e coube-me a mim fazer a sua apresentação. Agrdeço, naturalmente, o convite para fazer a apresentação dessa personalidade o que, tendo em conta a pessoa em causa, constitui uma honra redobrada….Dizer que se trata duma personalidade única é absolutamente redundante, pois, por definição, o atribuir um Prémio individual é, isso mesmo, o fazê-lo a alguém com percurso único, digno de relevo e de ser devidamente reconhecido.

O Homenageado de hoje enquadra-se naquele que alguns definem como o Homem de Pascal, em oposição ao Homem de Descartes, ou seja, o homem que vive e palpita, o homem que arrasta o seu destino e, despojado em um canto do Universo, sofre ou se alegra, canta ou chora, e algumas vezes sofre cantando ou chora na alegria. Exalta a sua grandeza e arrasta a sua miséria. Pensa em si mesmo, pensa nos seus semelhantes, comunicando-se com eles. Conhece nele e no mundo o problema e o mistério. Ama, procria e morre. Mas, depois de sua morte, deixa no mundo algo mais que um corpo perecível. Deixa a história única e irrepetível de seu destino pessoal e uma mensagem de emotividade que outro coração recolhe.

Muitos são os feitos que a Personalidade de hoje conseguiu ao longo da sua vida, em tempos nem sempre fáceis, sendo um simbolo do inovador inventivo, e, sobretudo de uma resiliência sem limites

Muito cedo procurou o saber noutras paragens, e, aquando do seu regresso a Portugal, trouxe consigo uma bagagem cheia de ideias encaradas como revolucionárias aos olhos da maior parte dos seus contemporâneos. Esteve sempre à frente do seu tempo, o que, por vezes, lhe causou alguma amargura, pela incompreensão a que foi sujeito. Mas, ao mesmo tempo, foi sempre um vencedor, sabendo contornar as dificuldades e lidar com essa mesma incompreensão. Lendo Sêneca, aprendemos que a virtude tem fome das dificuldades e elas sustentam sua glória.

Foi um dos grandes pioneiros da utilização inteligente da divulgação de mensagens para a saúde, através do recurso intensivo aos órgãos de comunicação social, e foi fundador de instituições de promoção da saúde e de prevenção da doença, tendo lutado, ao longo da sua vida, por uma melhor qualidade de vida dos portugueses. Não se limitou à zona de conforto de qualquer médico, ou seja, o hospital ou o seu consultório. Foi muito mais além nessa ambição de chegar com a sua mensagem a cada um que o pudesse ouvir.

Nos anos 70, criou uma Fundação, com o objectivo de viabilizar a comunicação directa com a população, em termos de prevenção e de educação para a saúde, seguindo modelos em prática noutros Países.

Foi vendo reconhecido o seu valor ao longo dos anos, tendo sido agraciado com as mais variadas distinções, quer em Portugal, como no Mundo. No Mundo Académico, o seu Mundo, venceu tudo o que havia para vencer. Fez juz ao preceito, que muitos (eu incluido) defendem, que a Academia precisa cada vez mais sair para o mundo. Precisa derrubar os muros e deixar-se consolidar na sua vertente científico-cultural, inserida no meio em que se desenvolve.

A medicina, apesar de ser Ciência, é como dizia Hipócrates: é Ciência na sua elaboração e arte na sua execução. Baseia-se num tripé: “curar, quando possível. Aliviar, quase sempre. Consolar, sempre”. O Homenageado de hoje foi exímio na forma como seguiu estes preceitos hipocráticos e será, possivelmente, aquilo que muitos já lhe chamaram “A personificação excelsa e purista do Médico na sua vertente humanista, científica e pedagógica”.

Então quem será o Premiado deste ano? É médico, professor, pedagogo, cientista, humanista, um dos grandes, senão o maior, impulsionador da medicina preventiva em Portugal. Conhecido como “O Homem do Coração” ou “O Homem do Laço”, estou a falar do meu Mestre, o Senhor Professor Fernando de Pádua. Bem Haja Professor e Muitos

Parabéns!!”

Um xi-coração!!! Até sempre, Professor Pádua!!!

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