Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa comemora 200 anos na Aula Magna da FMUL

in FMUL

O evento que celebrou dois séculos de existência da mais antiga Sociedade Médica em funcionamento contou com nomes sonantes da medicina, da investigação e com a presença do Presidente da Republica Marcelo Rebelo de Sousa, agraciado com uma medalha comemorativa.

A cerimónia dos 200 anos de existência da primeira Sociedade de Ciências Médicas, ainda em funcionamento em Portugal, foi hoje comemorada na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, (FMUL) e contou com a presença de muitos convidados ilustres da área da medicina e não só. A cerimónia de abertura contou com a presença do Presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, (CHULN) Dr. Daniel Ferro, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, (CML) Eng. Carlos Moedas, o Secretário de Estado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professor Pedro Teixeira e do Diretor da FMUL Professor Fausto Pinto. Coube ao Diretor da FMUL o discurso de abertura, passando imediatamente a palavra à atual Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, (SCMED) Ptofessora Maria do Céu Machado que fez uma viagem pelas razões que estiveram na origem da criação desta sociedade.

Em julho de 1822 nascia assim a SCMED pela mão de um grupo de médicos, cirurgiões e farmacêuticos que iriam criar e desenvolver um espirito multidisciplinar e uma visão mais moderna na área da medicina.  Mas não podemos dissociar a criação desta sociedade da realidade de então.  O que se passava era uma luta interna entre Miguelistas e Liberais que provocou uma turbulência social. A SCMED não foi vista com bons olhos pelos absolutistas e acabou por encerrar em maio, do ano seguinte, 1823, só voltando a reabrir em 1835 já com outra realidade social e política. Enquanto secretário de Estado, o Professor Pedro Teixeira destacou o papel da SCMED no período pós-liberal na “forma de organização sociocultural e política da sociedade”, não esquecendo “o contributo relevante da SCMED na estimulação da medicina.”

A verdade é que, em 200 anos de história, só duas mulheres assumiram a presidência desta instituição, a primeira foi a Professora Leonor Parreira, há apenas 10 anos. Foi preciso aguardar 190 anos de SCMED para que esta tivesse uma mulher ao leme. Maria do Céu Machado é o segundo rosto feminino a assumir a função. Na viagem que hoje foi feita à génese desta sociedade, foram destacados o acervo histórico, recentemente inventariado e do qual se reconhece interesse nacional e internacional. Foi a primeira publicação médica em território nacional e devido à sua periodicidade e continuidade, é possível perceber a evolução médica em Portugal. Aproveitando a presença do Presidente da CML, Maria do Céu Machado pediu um local onde o acervo pudesse ser exposto, uma vez que se encontra encaixotado. Destacou ainda a enorme biblioteca, com “livros publicados em 11 línguas diferentes do qual se destaca o volume “Drogas e Medicamentos da Índia” de Garcia de Orta, com prefácio escrito com versos de Luís de Camões, os primeiros versos publicados pelo poeta.”

Mas a SCMED não é só história e passado. O futuro está a ser preparado com a dinamização do Jornal, que vai ter novo figurino, vai ser bilingue e cuja nova edição está prevista para outubro. Carlos Fiolhais, um dos oradores convidados, fez referência ao jornal e “da importância que este conteúdo tem em termos de história.”

Um novo prémio dedicado à área do jornalismo vai também ser lançado, mantendo-se o reconhecido e prestigiado prémio Pfizer.

Carlos Moedas destacou o papel da classe médica manifestando um “sentimento de gratidão a todos os médicos pela sua ação durante a pandemia” e estendeu-o à SCMED “por Lisboa poder contar com a existência desta associação.” Alertou também para a necessidade da medicina saber conviver com outras profissões porque no fundo, “todas (as ciências) se entrelaçam.”

O discurso do Professor Catedrático de Coimbra Carlos Fiolhais foi uma viagem pela história e pela criação das várias academias e da sua importância na evolução da medicina. Destacou também 20 presidentes da SCMED, começando por Francisco Soares Franco, reeleito aquando do regresso da sociedade, depois do período mais conturbado da guerra civil. Para além de ser médico, “é o autor de um grande dicionário de agricultura”, uma curiosidade, que reitera que “os médicos já praticavam a interdisciplinaridade.” Mas há mais exemplos:  António José de Lima Leitão, que foi médico, político, escritor, professor “o que mostra uma vez mais a multidisciplinariedade como mais valia ou pelo menos como sendo natural num médico”. Por último, destacou o homem que admira e do qual foi amigo, o neurocirurgião João Lobo Antunes. Presidiu a SCEDM entre 2000 e 2003 e da qual, Carlos Fiolhais referiu inúmeras qualidades nomeadamente, “que irradiava brilhantismo”. Por falar em brilhantismo.

O Professor Sobrinho Simões foi o orador que se lhe seguiu. Assentou o seu discurso no papel fundamental que o doente deve ter no exercício da medicina, parafraseando o seu avô, também médico e que já em 1923 defendia esta ideia. O burnout esteve em destaque e na sua opinião, deve-se à “sobre exploração de horas de trabalho” a que os trabalhadores da área da saúde não são imunes. Este facto deve-se á existência daquilo a que chama “sistema híbrido: público e privado”. Referindo que este deve ser regulamentado.

O Presidente da República foi o último a discursar e também ele destacou a enorme importância da SCMED na sociedade política e civil, nomeadamente no papel que teve na compreensão global da medicina ao associar várias áreas de conhecimento, “não pensando em especializações, mas sim na sua visão global. Foi esta visão, que a tornou pioneira no domínio da saúde em Portugal, nomeadamente nas sociedade especializadas – que se lhe seguiram-, na atribuição de prémios e ao fazer a ponte entre a academia e todas as realidades que tocam a saúde em Portugal, bem como na mobilização dos maiores nomes, quer na academia, quer na prática clinica e da investigação, com prestigio nacional e internacional no quadro da SCM. 

No final Maria do Céu Machado atribuiu-lhe a medalha comemorativa dos 200 anos da SCMED e Marcelo Rebelo de Sousa ofereceu à Presidente da Sociedade das Ciências Médicas a Cruz da Ordem de Cristo.

Dado curioso é que já o seu pai, o médico Baltazar Rebelo de Sousa, havia recebido uma medalha comemorativa aquando da celebração dos 150 anos de existência da SCEMD.

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