Foi com a alusão aos números do surto de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, que Fausto J. Pinto denotou “alguma precipitação” no processo de desconfinamento, realçando o “desacerto de números e de coordenação de estratégias”, bem como a “falta de pedagogia” e “excesso de otimismo”, que considera ter marcado o regresso à nova normalidade em contexto de pandemia.
Na qualidade de Presidente do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), o Professor Fausto Pinto foi entrevistado pela Agência Lusa sobre a atual situação do país, reiterando a importância e urgência de uma maior colaboração entre o poder político e a comunidade científica, de forma a responder com maior eficácia à crise sanitária que o país enfrenta. “Era importante os políticos ouvirem de uma forma mais abrangente e não apenas aqueles por si nomeados ou que fazem parte do círculo mais fechado. Deviam ouvir ainda as academias. Era importante haver uma aliança, seria mau existir um antagonismo (entre políticos e cientistas) ”, elucidou o Professor à Lusa, conforme notícia avançada pelo Observador.
Segundo Fausto Pinto, que traz à discussão as consequências de um cenário em que, em plena pandemia, políticos e a comunidade médica e científica se posicionam em lados opostos, “há a necessidade de uma maior coordenação e uma estratégia mais bem definida, sobretudo, ao nível das estruturas de saúde pública, da identificação dos casos positivos e da existência de uma rede adequada no terreno”, realçou. Para além disso, o Professor acredita que a “única forma de ultrapassarmos isto é se as pessoas cumprirem as regras. Ninguém quer voltar ao confinamento, mas se isto correr muito mal pode não haver outra solução”.
Citando Albert Einstein, o Presidente do CEMP explicou que Portugal tinha todas as condições para ser um bom exemplo no enquadramento mundial do controlo da pandemia, mas “com aquela pressa toda estamos a ser agora um mau exemplo. Ficámos mal na fotografia e é preciso corrigir com as pessoas adequadas. Recorrendo a uma linguagem futebolística, às vezes são precisas ‘chicotadas psicológicas’. Albert Einstein dizia que as mesmas soluções para os mesmos problemas dão os mesmos resultados. Se calhar, é preciso haver também algumas mudanças”, referiu Fausto Pinto, aludindo a uma estratégia de reestruturação ao nível dos responsáveis pela coordenação das autoridades de saúde.
Recorde-se que, Portugal contabiliza até à data mais de 40.000 casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo dados divulgados pela DGS (Direção-Geral da Saúde), sendo que a capital do país concentra mais de 70% da totalidade dos casos, destaca a imprensa nacional.
Entretanto, as últimas notícias do surto de covid-19 na Grande Lisboa apontam para uma estabilização no contágio, com a informação da tendência para a diminuição do número de casos. Fausto Pinto garante que “o controlo vai depender muito da capacidade que as nossas autoridades de saúde e o Governo tiverem de poder enfrentar esta situação com medidas assertivas e uma boa organização, que permita no terreno a identificação das cadeias, a realização dos testes, e a pedagogia junto das pessoas”, referiu, antecipando que “há todo um trabalho que se não for feito de forma coordenada pode evoluir para uma situação mais complexa. Não se pode baixar a guarda”, afirmou o Professor na entrevista que pode ler na íntegra aqui.